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PRECISAMOS FALAR SOBRE A SAÚDE MENTAL DOS ADOLESCENTES

Antes de começar, um alerta: esta reportagem aborda a questão da saúde mental e traz relatos de depressão, ansiedade, suicídio e ataques de LGBTfobia. Se você ou alguém que você conheça precisa de ajuda, ligue para 188 (Centro de Valorização da Vida).

Frequentemente, Valéria Garcia Rodrigues, 18, fica sem disposição e ânimo para fazer as coisas do dia a dia. Ela conta que se sente deprimida desde os 12 anos, mas acontecimentos recentes fizeram com que o quadro piorasse.

Estudante do terceiro semestre em enfermagem, Valéria foi mãe aos 16 anos e hoje vive com os pais, uma irmã e a filha, Laura, na Brasilândia, na zona norte de São Paulo.

“Sinto que com a pandemia meu caso se agravou”, conta. “Tenho um relacionamento instável com meus pais e diversos problemas vieram aparecendo, como falta de emprego, adiamento da minha formação, meu término de namoro e a necessidade de sustentar minha filha”, relata.

Diagnosticada com depressão e ansiedade, ela faz tratamento com um psicólogo e toma um medicamento.

Em casa, não levaram a sério o problema, disseram ser “drama”© Magno Borges/Agência Mural Em casa, não levaram a sério o problema, disseram ser “drama”

A dificuldade em lidar com a situação começa em casa. “Meus parentes me veem como fraca, como se eu estivesse fazendo ‘drama’. Isso ajuda mil vezes a agravar meu estado.”

Assim como Valéria, outros adolescentes, moradores das periferias e ouvidos pela Agência Mural, relatam uma piora no quadro da saúde mental desde o início  da pandemia do novo coronavírus.

A situação é preocupante. A necessidade do isolamento social e a suspensão das aulas presenciais associados à falta de políticas públicas e o aumento da desigualdade social vêm preocupando e adoecendo a juventude.

JOVENS NEGROS

Entre as preocupações com a situação da saúde mental estão casos em que houve vítimas fatais por conta da doença.

Segundo a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) e a OMS (Organização Mundial da Saúde), o suicídio é a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos.

No Brasil, há poucos estudos sobre o tema, mas o último publicado aponta que adolescentes e jovens negros têm maior probabilidade de se matarem. Os dados estão na cartilha “Óbitos por Suicídio entre Adolescentes e Jovens Negros”, lançada pelo Ministério da Saúde em 2018.

De acordo com o estudo, a taxa de mortalidade por suicídio entre jovens e adolescentes negros entre 10 e 29 anos aumentou 12%, de 2012 a 2016, enquanto a de brancos ficou estável.

Em 2016, o risco de morte por suidício entre pretos e pardos era 45% maior se comparado aos brancos. A cada dez suicídios em adolescentes e jovens, aproximadamente seis ocorreram em negros, e quatro em brancos.

Procurado, o Ministério da Saúde não informou se há novos estudos sobre o tema. Já o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos disse que foi feito um edital para buscar um diagnóstico “sobre a realidade vivenciada por crianças, adolescentes e famílias neste período de pandemia de Covid-19”. O levantamento foi iniciado, mas ainda não há prazo para a publicação.

Entre os jovens ouvidos pela Agência Mural, é consenso que a pandemia ampliou as dificuldades para manter a saúde mental. Além disso, os casos de depressão em casa esbarram em um ponto: a dificuldade em falar sobre o problema e o quanto a situação não é reconhecida por pessoas próximas.

O TABU 

Também na zona norte de São Paulo, na Vila Nova Cachoeirinha, Luzia*, 16, afirma que as doenças da mente ainda são vistas como um tabu por algumas pessoas. (O nome dela foi trocado a pedido da entrevistada).

Ela começou a ficar mais atenta sobre essas questões quando a mãe morreu por suicídio. Na época, Luzia tinha apenas 11 anos.

“Todos fingiam não ver a depressão, mas eu já percebia os sinais. No dia da morte dela, entrei no quarto e vi garrafas de bebida com uma cartela de remédio. Foi coisa de segundos, fingi para outros que não tinha olhado”, relembra.

“Chamaram a ambulância, eu pensei que ficaria tudo bem e fui dormir. Quando acordei e me deram a notícia, perguntei o que tinha acontecido. Disseram que foi parada cardíaca.”

“A pandemia virou meu mundo de cabeça para baixo”© Magno Borges/Agência Mural “A pandemia virou meu mundo de cabeça para baixo”

Desde então Maria vive com tios, cuja relação é conturbada, e conta que parte da família evita falar sobre depressão abertamente, o que para ela não é a melhor forma de lidar com a doença.

“É mais fácil fingir que transtornos mentais não existem. Mas se as pessoas tivessem  abertura para falar sobre seus problemas, muitas mortes poderiam ser evitadas.”

Atualmente Maria cursa o 1º ano do ensino médio integrado com um curso técnico. No tempo livre,  gosta de ver séries e escutar música, indie funk e pop são os gêneros favoritos da adolescente.

Em 2018, ela começou a fazer tratamento com um psicólogo, que acabou não sendo efetivo naquele momento. “Não estava aberta para conversar com ninguém.” A jovem relembra que contar com o apoio dos amigos foi fundamental para se sentir melhor.

Porém, com a chegada da pandemia, a falta de contato social tem sido “sufocante” e ela cogita voltar a fazer a terapia.

NÃO DESISTA DE VOCÊ

Suicídio de jovens tem causado preocupação© Magno Borges/Agência Mural Suicídio de jovens tem causado preocupação

Vestidos de preto, em sinal de luto, os artistas Laiz Lamarante, 30, e Renan Samam, 32, estendem um bandeirão onde se lê o lema “Não Desista de Você”. Com um  megafone, eles dizem palavras de encorajamento para as pessoas que passam.

A ação é apenas uma das realizadas por eles em combate à depressão. Há 13 anos, os dois atuam no Jardim Salete, município de Taboão da Serra, e em Paraisópolis, a segunda maior favela da capital.

O objetivo é formar uma rede de afeto entre os moradores por meio de bate-papos, shows e outros eventos. Além disso, já acompanharam mais de 200 pessoas, sobretudo jovens com abalos em saúde mental.

Quem aceita ajuda é encaminhado para psicólogos parceiros e começam a participar de encontros semanais.

Na pandemia, as conversas têm sido online e acompanham cerca de 50 jovens. “Muito além de suprir uma fome, com a entrega de cestas básicas, as pessoas queriam ser ouvidas, um colo, um ouvido, um abraço”, diz Laiz.

Contudo, a pandemia afetou a frequência dos participantes, mesmo nas ações feitas pela internet.

Eles entendem que a ausência é um problema não somente relacionado à precariedade dos meios tecnológicos, mas uma característica recorrente de indivíduos que sofrem com a depressão: a dificuldade de se relacionar a distância. “O olho no olho, o contato direto faz toda diferença.”

Ainda assim Renan comenta sobre a dificuldade de sonhar, cujo verbo ele vê como distante aos jovens que vivem nas periferias, muitas vezes sem opções de ascensão social. Esse contexto torna ainda mais amplo o serviço social e psicológico.

“Mostramos que é possível sonhar, vencer de forma digna. Mostrar que eles têm valor, são lindos e capazes de ser quem eles quiserem ser desde que sigam um caminho correto e árduo”, diz Renan. 

Para eles, a falta de investimento em educação nas periferias resulta em várias  questões. Uma delas é a falta de compreensão dos pais nas conversas relacionadas à discussão de gênero e, por consequência, a ausência de uma estrutura familiar para que esse jovem possa dialogar sobre  orientação sexual e outros temas que o atravessam.

“Esse quesito afeta diretamente a saúde mental de muitos jovens. Por isso é necessário o apoio de movimentos que ouçam, acolham e sejam instrumento de ensino, além de fortalecer os valores e direitos desses jovens”, completa Laiz.

PRECONCEITOS 

“Sempre tive pressa de viver tudo. Quando me vi trancada em casa na pandemia, falei, ‘meu Deus, e agora?’ Foi um ano bem conturbado.”© Magno Borges/Agência Mural “Sempre tive pressa de viver tudo. Quando me vi trancada em casa na pandemia, falei, ‘meu Deus, e agora?’ Foi um ano bem conturbado.”

Aos 16 anos, Giovanna diz que os preconceitos que sofre pelo fato de ser uma jovem negra e lésbica impactam diretamente na saúde mental dela. “Por mais que eu me force, por mais que eu tente, o ponto de partida nunca vai ser o mesmo. O olhar das pessoas já é diferente.”

Ela já sentiu que foi preterida apenas pela cor da pele em processos seletivos para emprego e já sofreu agressões físicas dentro da antiga escola por conta da orientação sexual.

“Eu ia para escola só duas vezes por semana, não queria ir e sofrer tudo aquilo novamente, todos os dias. E aí parei de ir durante um tempo, mas depois consegui voltar.”

Foi aos 12 anos, quando assumiu abertamente sua sexualidade para os pais, que as agressões na escola pública onde estudava começaram. Ela chegou a ser empurrada de uma escada e também apanhou na rua.

Na época, a mãe de Giovanna foi até o colégio para conversar com a coordenação e a direção sobre a situação.

“A coordenadora falou que eu tinha que aprender a levar porrada, porque ia ser assim o resto da vida. Disse que ia acontecer e que eu tinha que aprender a lidar. As pessoas não tinham que mudar e quem tinha que mudar era eu, para poder me encaixar”. 

Atualmente Giovanna vive sozinha em um bairro da Brasilândia, mas os pais moram no mesmo quintal. Ela também está fazendo um curso de maquiagem e trabalha na área eventualmente. No ano passado, estava se sentindo mal psicologicamente.

“Se não estiver bem com minha saúde mental, não consigo levantar da cama, não consigo comer nem conversar. Sinto como se não fosse eu que estivesse vivendo, que estou só vendo o tempo passar de longe.”

Giovanna fez algumas sessões de terapia, mas o valor apertou no bolso da família e ela teve que parar.

Este ano, diz estar melhor, mas conta que se tivesse oportunidade financeira continuaria fazendo o acompanhamento, principalmente pelos impactos gerados pela pandemia.

Alguns grupos criados nas periferias têm trabalhado para dar esse auxílio.

PSICOLOGIA INCLUSIVA 

Os psicólogos Ana Albuquerque e Douglas Felix são fundadores e sócios-proprietários do Canto Baobá, organização que busca democratizar o cuidado com a saúde mental, com ênfase em questões raciais, de gênero e orientação sexual.

Atualmente no Bela Vista, no centro de São Paulo, onde fica o projeto, Ana cresceu na zona norte da capital, em Pirituba, e Douglas, no Parque Santo Antônio, na zona sul. Eles apontam  diferenças nas pressões sofridas pelos adolescentes que vivem nas periferias em relação aos de bairros mais ricos.

“O jovem que possui uma classe social privilegiada geralmente se preocupa com questões de trabalho e alimentação”, analisa Douglas.

“Jovens [das periferias] precisam trabalhar, pagar as contas, a família passando por dificuldades e se concentrar a noite no estudo? Ainda mais no online, onde muitas vezes a internet oscila muito. Como fazer isso?”, completa Ana. 

Atualmente, dos 562 clientes atendidos pelo Canto Baobá, 377 pagam valores sociais (mais baratos) e 100 desembolsam valores simbólicos (bem próximos da gratuidade ou totalmente gratuitos).

Aqueles que pagam o valor “normal” (próximo a tabela do Conselho Federal de Psicologia entre R$ 165 a R$ 283 por consulta) ajudam a manter a gratuidade para quem mais precisa. Durante a pandemia eles perceberam que a procura por ajuda psicológica aumenta. São mais de 400 pessoas na fila de espera para atendimento na clínica.

“Ainda vemos a exclusão no espaço psicoterapêutico”, comenta Douglas.

Ana diz deixar claro para todos os jovens periféricos que passam por psicoterapia no Canto Baobá que aquele é um espaço para pensar seus direitos e escolhas, porque até isso, por vezes, é negado.

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Na mesma linha do Canto Baobá, o grupo PerifAnálise, criado há três anos, em São Mateus, zona leste da capital paulista, é um coletivo formado por analistas.

O grupo se propõe a aproximar a psicanálise das regiões periféricas, e vice-versa, de modo que seja mais acessível para pessoas interessadas em se servir da prática psicanalítica.

Eles negociam o preço da consulta caso a caso e veem o trabalho feito como ato político. “É uma ação que não pretende ocupar o vazio do Estado, mas provocar com que outras garantias sejam previstas no campo das políticas públicas de saúde mental”, afirma.

O grupo afirma que busca identificar questões raciais, de gênero e orientação sexual, pois essas vivências marcam as pessoas e se traduzem em sofrimento e exclusão social. “Nossa experiência com adolescentes nos bairros pobres mostrou que a desigualdade social opera agressivamente na vida periférica”, acrescenta.

As profissionais do PerifAnálise dizem que a adolescência é um período do desenvolvimento humano que coloca a pessoa frente a incerteza de uma vida adulta e o luto pela perda do corpo infantil, o que gera angústia neste período de transição.

O coletivo diz que há diversos sinais do corpo que podem indicar a necessidade em procurar ajuda, como choro intenso, falta de sono, angústia e pensamentos suicidas.

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