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O empreendedor que está mudando a quebrada

Para chegar ao Campo Limpo, é necessário cruzar uma ponte. De carro ou de ônibus, um caminho mais reto para quem vem da Sé (são cerca de 25 quilômetros de distância e pelo menos uma hora, com trânsito bom) passa pela Ponte João Dias. Para quem não é dessa quebrada, porém, a viagem costuma incluir uma travessia um tanto mais complicada, ainda que simbólica. “É preciso sair da preguiça social para definir como destino no Waze uma região periférica”, afirma Thiago Vinícius, empreendedor à frente da Agência Popular Solano Trindade.

Numa casa alugada na Rua Batista Crespo, 105, a poucos metros do terminal de ônibus da região, ele e muitos amigos (coletivo é a palavra de ordem) colocaram para funcionar um coworking, uma rádio, uma venda de produtos orgânicos e, desde outubro, um restaurante. “Quando falo do direito à cidade, a gente quer que a galera venha aqui à favela, e a gente quer andar nos Jardins sem parecer suspeito. A gente também gosta de cerveja artesanal e comida boa.”

No próximo domingo (15), o maior evento da agência, o Festival Percurso, oferece bons motivos para reunir quem quer encurtar distâncias dentro da própria cidade. Na sua sexta edição, a Praça do Campo Limpo será tomada por barraquinhas de 100 empreendedores da região. “Na quebrada, as pessoas viram empreendedoras por necessidade, porque o marido morreu ou algo assim. A gente mostra que é possível transformar essa realidade e se aperfeiçoar”, defende Thiago. Em menos de oito horas, por WhatsApp, ele conseguiu o cadastro de todos os participantes. Nenhum deles paga para estar lá — nem dá parte de seus rendimentos à Solano Trindade depois. “Mas todo mundo tem de vir aos encontros pra receber capacitação e não chegar mortão ao festival.”

Um dia antes, no sábado (14), a empresa sedia o Perifa Talks, ciclo de palestras inspirado no modelo TED. Entre os convidados para falar sobre sua própria história de superação está o videomaker KondZilla, filho de um pedreiro e uma funcionária pública que cresceu na periferia do Guarujá e hoje é dono de um dos canais de YouTube mais acessados do planeta. No palco principal, o cantor Rael é uma atração muito aguardada. “Para mim, é uma honra estar junto de quem sempre levou a cultura para a quebrada. Como o acesso é gratuito, muitas famílias podem ir. Tem criança que vai ver pela primeira vez um show lá”, afirma Rael.

No setor gastronômico, a participação mais famosa é da chef Bel Coelho, que conheceu Thiago Vinícius durante uma mesa sobre a cadeia dos alimentos. “Ele me corrigiu, disse que a periferia queria, sim, comer melhor”, lembra Bel. Para este ano, ela planeja dar uma aula aberta sobre aproveitamento total dos ingredientes. “Tento pensar em receitas que aumentem o repertório de quem pode trabalhar cozinhando. Provavelmente, vou usar pancs, as plantas alimentícias não convencionais.” Um cardápio que poderia estar na Vila Madalena, onde funciona o seu restaurante Clandestino, mas, graças à ponte de Thiago, estará no Campo Limpo.

Tal habilidade de transitar entre universos separados por um precipício de desigualdades econômicas e preconceitos revela um pouco da trajetória incomum de Thiago. Nascido no Campo Limpo, ele passou parte da infância no Jardim São Marcos, em Embu, junto ao Pirajussara — área constantemente sujeita a enchentes. “Lembro de brincar de esconde-esconde e levar bronca da galera do tráfico. Não era para correr porque eles achavam que era a polícia chegando.” Em 1998, aos 8 anos, entrou para o Projeto Arrastão, mais importante para a sua formação humana do que a Escola Estadual Presidente Kennedy, na sua opinião. Lá, desenvolveu um projeto de coleta seletiva e educação ambiental que foi escolhido, em 2004, pela aceleradora Artemisia. “Aos 15 anos, tive a oportunidade de implantar e coordenar esse projeto”, recorda. “Com os primeiros 600 reais que ganhei, bati a laje da casa da minha mãe. É um símbolo de status positivo para ela, mostra que seus filhos estão trabalhando em prol da família.” Seus colegas sentiam a mesma provocação para contribuir com dinheiro em casa, mas Thiago acabou encontrando outras formas de fazê- lo. “Os caras diziam que eu vivia andando pra cima e pra baixo com um monte de papel. Depois daquela laje, vi que podia ganhar dinheiro com os papéis que tinha na mão.”

Em pouco tempo, porém, o contexto das ONGs não atendia mais ao horizonte do rapaz. “Depois que assisti ao filme Quanto Vale ou É por Quilo?, comecei a pensar na mercantilização da pobreza do terceiro setor. Vi que as organizações se aproveitavam da fome das pessoas, não queriam acabar com ela. Foi quando conheci a União Popular de Mulheres e a força do empreendedorismo raiz, que vinha de um grupo de mães que não tinham para onde correr e se associavam para se ajudar.” Ali, um de seus projetos de maior visibilidade ganhou corpo: o Banco Comunitário União Sampaio. Com 20 000 reais arrecadados em uma vaquinha virtual, em 2012, o banco passou a oferecer microempréstimos a moradores da região. “Eu era analista de crédito, visitava a casa das pessoas e via que 70% dos pedidos eram para comprar comida”, contabiliza. Para as pessoas nessas condições delicadas, o empréstimo era feito sem juros, na moeda sampaio — lastreada no real, mas válida somente no comércio local. “É um jeito de dar um oxigênio para a pessoa e estimular o consumo dentro da nossa comunidade, movimentar a economia da periferia.”

A dedicação aos movimentos sociais e de transformação das áreas mais marginalizadas da cidade em muitos momentos andou junto com batalhas íntimas. Em 2011, seu irmão mais novo, André, foi morto. “Ele foi fazer um assalto a banco. Ele não estava certo. Mas a polícia deu onze tiros nele. Ele tinha de estar na prisão, não no cemitério”, diz Thiago. “Foi para defender a juventude negra e pobre do extermínio que fizemos o Projeto Redes, que culminou no primeiro Festival Percurso. A gente queria oferecer formação e oportunidade pra chegar primeiro que o fuzil à vida do jovem.” O mesmo sentimento de inconformidade pessoal impulsionou o trabalho coletivo na agência, fundada em 2012 e batizada em homenagem ao poeta pernambucano Solano Trindade (1908-1974). Na 31ª Bienal, de 2014, cujo tema questionava como falar das coisas que não existiam, eles foram convidados a participar dos saraus. A programação incluía exibições de índios guaranis e músicas de terreiros e contou com um manifesto: “Sim! Nós somos a cidade! A periferia, que está em todo lugar, é a arte de toda parte. As culturas tradicionais e periféricas se irmanam para uma união que legitima a ancestralidade e celebra a contemporaneidade, presente em quem sente aquele friozinho na barriga quando o Marco Pezão (cofundador da Cooperifa, que morreu em outubro em decorrência de um câncer) grita: ‘Nóis é ponte e atravessa qualquer rio’”.

 

 

Fonte: MSN NOTÍCIAS

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