
Especialistas afirmam que grávidas que receberam a primeira dose da vacina de Oxford/AstraZeneca precisam ter acompanhamento médico para eventos adversos e devem receber a segunda dose – porque o risco oferecido pela Covid-19 é bem maior do que eventuais efeitos da vacina.
Na segunda-feira (10), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou a suspensão da aplicação da vacina em gestantes. A agência não relatou nenhum evento adverso ocorrido em grávidas no Brasil após a vacinação.
O Ministério da Saúde ainda não se pronunciou sobre a recomendação (veja detalhes mais abaixo nesta reportagem).
“Quem tomou a primeira dose deve tomar a segunda. Mas o médico que acompanha a gestante deve monitorar caso surjam alguns eventos adversos”, afirma a epidemiologista Ethel Maciel, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
A professora de imunologia Letícia Sarturi, do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Paulista (Unip), em São Paulo, explica que a chance de ocorrer um evento adverso relacionado à vacina após a segunda dose é menor – mas há ressalvas.
Se a vacina tiver gerado efeitos adversos na circulação sanguínea – como, por exemplo, trombose –, é necessário reavaliar. Isso porque a gravidez, sozinha, já aumenta o risco de aparecimento de coágulos e a ocorrência de trombose. Esse risco aumenta à medida que a gestação avança – por causa do aumento no tamanho do útero, que acaba atrapalhando a circulação.
A infectologista Mirian Dal Ben, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, explica que o tempo até o aparecimento de eventos adversos relacionados à vacina varia de acordo com o evento.
“Depende da reação. Os eventos trombóticos, que são as reações adversas graves, que são muito raros, podem acontecer até 3 semanas depois da tomada da vacina. E tem os efeitos colaterais que são dor no braço, dor no corpo, de cabeça, que aí pode ser nos 5 primeiros dias”, diz.
Dal Ben reforça que o risco associado à Covid-19 na gestação ainda é “muito maior” do que um potencial risco relacionado à vacina.
Já Sarturi reforça que, se houver relação de caso de trombose na gestação com a vacina, é necessário aguardar recomendações dos órgãos de saúde.
“Por enquanto, não sabemos ao certo. Reações adversas costumam aparecer na primeira dose, mas no caso de eventos trombóticos a gente tem que avaliar o risco quando a gestante for tomar a segunda dose. Se o médico ou os órgãos de saúde recomendarem que não se tome, deve ser seguido”, diz.
Quais são os efeitos colaterais conhecidos da vacina?
Considerando dados dos ensaios clínicos de fase 3, o governo britânico lista as seguintes reações adversas como mais frequentes após a aplicação da vacina de Oxford:
- sensibilidade e/ou dor no local da injeção
- cefaleia (dor de cabeça)
- fadiga
- mialgia (dor muscular)
- mal-estar
- febre
- calafrios
- dor nas articulações
- náuseas
Entre as 23 mil pessoas que participaram dos testes, cerca de 1 a cada 10 relatou ao menos um dos sintomas acima.
A maioria das reações adversas foi leve a moderada e geralmente resolvida alguns dias após a vacinação. As reações notificadas após a segunda dose foram mais leves e menos frequentes do que após a primeira dose. Além disso, foram geralmente mais leves e menos frequentes em idosos (com 65 anos ou mais) do que em pessoas mais jovens.